
O nosso cérebro é uma máquina incrivelmente complexa e magnífica! Podemos observar que em momentos de stress ou trauma, reagimos de formas muito específicas que habitualmente não passam pelo nosso querer: são automáticas. Estas respostas foram fundamentais para a nossa sobrevivência ao longo dos primeiros anos da nossa vida, mas, em muitos casos, acabam por se tornar disfuncionais, levando a comportamentos desajudatados na idade adulta. Todos nós gostariamos de mudar estes padrões, mas acabamos por acreditar que "Somos assim", como se os nossos automatismos fizessem parte da nossa personalidade imutável.
Graças à inteligência da fonte criadora, todos nós temos SIM a capacidade de modificar esses padrões repetitivos que tornam a nossa vida muito mais complicada e desequilibrada. É essencial primeiro entender como estes padrões se formam no nosso cérebro para, de seguida, explorarmos formas de os reverter, assumindo novamente o controlo do nosso sistema nervoso, parece-te bem? Vamos a isso!
Como se Formam os Caminhos Neurais e os Comportamentos Automáticos
O nosso cérebro é moldado pela neuroplasticidade, ou seja, pela sua capacidade de se reorganizar e de formar novas ligações ao longo da vida de acordo com a informação repetitiva que obtemos. Quando experiencio stress ou trauma, os meus circuitos neurais activam respostas automáticas de sobrevivência — as respostas de Luta, Fuga, Dissociação ou Submissão/manipulação. Com a repetição destas respostas, os neurónios formam ligações cada vez mais fortes, criando padrões automáticos de comportamento.
Estes circuitos tornam-se muito poderosos porque, quando passamos por uma situação traumática, o nosso cérebro regista essa experiência como uma ameaça grave. Assim, sempre que algo semelhante acontece, o cérebro ativa os mesmos caminhos de resposta, mesmo que o perigo não seja real. Este processo acontece, sobretudo, na amígdala, a parte do cérebro que processa as emoções, principalmente o medo. Com o tempo, estas respostas automáticas começam a ser acionadas ao mínimo sinal de "perigo" sem que eu tenha consciência de tal.
A boa notícia é que, graças à neuroplasticidade, eu posso criar novos caminhos neurais, desconstruindo estes padrões automáticos e resgatando a minha capacidade de resposta como adulto consciente. Isto implica a prática contínua da observação e aplicação das ferramentas de autorregulação emocional.
Vamos explorar agora cada um dos mecanismos de resposta ao stress/trauma e algumas práticas que nos ajudam a reverter estes padrões:
1. Luta (activação do sistema simpático)
A resposta de luta ocorre quando o meu cérebro acredita que a melhor forma de lidar com uma ameaça é enfrentá-la. Isto pode manifestar-se como raiva, irritação, agressividade ou uma necessidade compulsiva de controlar tudo. Se este é o meu padrão automático, posso reagir de forma explosiva, mesmo quando a situação não justifica.
Como reverter o padrão de luta:
- Praticar a atenção plena (mindfulness): Ao meditar e respirar conscientemente, consigo criar um espaço entre o estímulo (o gatilho) e a minha resposta. Este pequeno espaço permite-me escolher conscientemente uma reação mais equilibrada, em vez de ceder ao impulso de raiva.
- Autocompaixão para regular as emoções: Ao desenvolver a capacidade de me ligar às minhas emoções sem julgamento, crio um ambiente interno mais seguro, o que reduz a minha necessidade de reagir com agressividade.
- Atividade física moderada: Exercícios como yoga, caminhadas ou treinos de resistência ajudam a libertar a energia acumulada no corpo, o que facilita o relaxamento.
*podes encontrar um exercício prático na minha página de instagram https://www.instagram.com/ritatavares.blog/
2. Fuga (activação do sistema simpático)
A resposta de fuga surge quando o meu cérebro acha que o melhor é escapar à ameaça. Isto pode aparecer sob a forma de evasão, ansiedade, procrastinação ou mesmo de uma busca incessante pela perfeição (como forma de evitar o fracasso). No padrão de fuga, posso sentir-me constantemente em movimento, seja física ou mentalmente, como se estivesse sempre a tentar evitar alguma coisa.
Como reverter o padrão de fuga:
- Exposição gradual ao desconforto: Para criar novos circuitos no meu cérebro, devo expor-me lentamente a situações que normalmente evito. Assim, começo a ensinar ao meu cérebro que nem todas as situações são uma ameaça. Isto deve ser feito primeiro com pessoas do nosso circulo de confiança e com muita presença e consciência de todas as manifestações que surgem no corpo.
- Práticas de enraizamento: Técnicas como sentir os pés no chão, focar na respiração ou usar objetos sensoriais ajudam-me a reorientar a atenção para o presente, reduzindo a vontade de fugir. Autotoque consciente também é muito eficaz para reverter este padrão.
- Reduzir a autocrítica: Desenvolver o hábito de desafiar os pensamentos de perfeição ou fuga ajuda-me a criar uma narrativa interna mais flexível e gentil.
3. Dissociação/ Congelamento (ativação do sistema parasimpático)
A resposta de dissociação acontece quando o meu cérebro decide que não posso lutar nem fugir, levando-me a uma paralisia emocional ou física. Isto pode manifestar-se como congelamento, sensação de estar “bloqueado” ou incapacidade de tomar decisões. No padrão de dissociação sinto-me preso e sem opções.
Como reverter o padrão de congelamento:
- Movimento corporal intencional: Práticas de movimento corporal conscientes, como tai chi, dança lenta, tapping ou caminhadas, podem ajudar a desbloquear o corpo e a criar uma sensação de fluidez.
- Conexão com o corpo: Tirar um momento para me focar nas sensações do meu corpo, respirando para as zonas evidentementes tensas (congeladas) ajuda a dissolver o estado e a restaurar a circulação da energia.
- Visualização criativa: Imaginar-me a agir ou a fazer escolhas na direção do que desejo, vai ajudar-me a desbloquear o padrão de congelamento. Posso também escrever e ler em voz alta para uma maior integração.
4. Manipulação/Submissão (ativação do sistema parasimpático)
A resposta de submissão envolve agradar os outros como forma de evitar conflito ou rejeição. Se este é o meu padrão, posso adotar um comportamento excessivamente submisso, colocando sempre as necessidades dos outros à frente das minhas, muitas vezes à custa dos meus valores e da minha própria identidade.
Como reverter o padrão de submissão:
- Definir limites saudáveis: Aprender a dizer “não” e a estabelecer limites claros ajuda-me a criar novos padrões de amor próprio e assertividade.
- Prática de autoconsciência: Reconhecer quando estou a colocar os outros à frente de mim mesma/o ajuda a interromper este ciclo. Perguntar-me: “É isto que eu realmente quero?” pode ser um bom começo. Não digas logo que sim. Pensa primeiro no assunto.
- Exercitar a autoafirmação: Desenvolver o hábito de colocar intenções diárias ou de refletir sobre os meus desejos e necessidades pode reforçar o meu valor pessoal, ajudando a dissolver a tendência para submissão.
Resgatar o Poder Pessoal: Construir um Novo Cérebro
O resgate do meu poder pessoal acontece quando me torno consciente dos meus padrões automáticos e começo a construir novos caminhos neurais. Este processo requer paciência, prática e responsabilidade pessoal. Aqui estão alguns passos que nos ajudam neste caminho de transformação:
1. A autoconsciência é a chave: O primeiro passo para mudar qualquer padrão é reconhecê-lo. Devo observar-me nos momentos de stress: “Que resposta automática estou a manifestar?”.
2. Prática diária de novas respostas: Sempre que enfrento um gatilho, tenho a oportunidade de construir um novo caminho neural ao escolher conscientemente uma resposta diferente.
3. Neuroplasticidade e consistência: Com a repetição consistente destas novas práticas, o nosso cérebro vai enfraquecendo os antigos padrões automáticos e fortalecendo os novos. A cada nova resposta, estou a reorganizar o meu cérebro para se alinhar com a pessoa que quero ser.
4. Autorregulação emocional: Aprender a regular as minhas emoções é fundamental para construir novos padrões. Técnicas como meditação, respiração profunda e autocompaixão ajudam-me a manter o equilíbrio emocional.
Conclusão!
Embora a mudança não aconteça da noite para o dia, com paciência e prática, podemos reescrever a nossa história interna e viver de forma mais consciente, empoderada e equilibrada.
Um forte abraço para ti!
Rita
*Gostavas de ter um manual com as ferramentas básicas para cuidares da tua saúde emocional, física, mental e espiritual? Espreita este link:
Comments